E, agora, deixamos um texto mais técnico e muito importante, escrito por uma das nossas professoras. É importante perceber que temos dificuldade em "fazer de conta" e imaginar. Ou seja, temos também dificuldade em brincar e interagir com o outro.
No fim, surge um pequeno vídeo com um de nós a ser estimulado para a brincadeira...
Esperemos que gostem de aprender, tal como nós!
O “faz de conta”
Brincar é uma característica que
define a infância (sem dúvida). Observando o quotidiano das crianças
verifica-se que elas convertem quase toda a sua atividade em brincadeira.
Entretanto, entre crianças com desenvolvimento atípico, a brincadeira emerge de
forma diversa, especialmente entre aquelas portadoras de transtornos globais do
desenvolvimento, onde os próprios critérios de diagnóstico incluem a
identificação de algum comportamento disruptivo na brincadeira, como a falta de
reciprocidade social, ausência de jogos ou brincadeiras de imitação social e
pobreza ou inexistência de brincadeiras simbólicas espontâneas.
Focando nas crianças com
perturbação do espetro do autismo (PEA), verifica-se que a brincadeira
espontânea é expressa de forma atípica. A criança com PEA brinca ao “faz de
conta”? O facto de estas crianças apresentarem as suas principais dificuldades
na área da socialização, o fenómeno da brincadeira terá ou surgirá distorcido.
Levar a criança com autismo a
brincar, proporcionar momentos de “faz de conta”, apresentar espaços com essas
possibilidades nas suas vidas (querendo com isto dizer que numa unidade de
ensino estruturado se deveriam privilegiar espaços de brincar e não só de
atividades ditas escolarizantes), ajuda muito a enriquecer a brincadeira
empobrecida.
Esta brincadeira, dita
empobrecida, pode ter consequências no desenvolvimento, como o reforço dos
prejuízos típicos do próprio transtorno, bem como efeitos danosos mais distais.
Dessa forma, a baixa frequência de envolvimento em atividades que possibilitam
o desenvolvimento dessas habilidades, sendo a brincadeira o principal espaço para
tal na infância, pode “auspiciar” as consequências negativas também para o
desenvolvimento adulto. Ou seja, os déficits característicos desta perturbação
prejudicam o aparecimento do fenômeno (a brincadeira) e, a ausência deste, por
sua vez, possivelmente conduz a atrasos no desenvolvimento de habilidades
importantes para a adaptação do sujeito (criança, neste caso) numa sociedade
complexa.
Não é nossa intenção carregar
negativamente este texto. O grande objetivo é a criança não focar só nas aprendizagens
académicas e ajudá-las, ensiná-las, privilegiá-las com o brincar.
Sem comentários:
Enviar um comentário